He-man e a ferida

Estou com uma queimadura no peito, resultado da utilização distraída de uma panela de água quente. Nasceu bolha. A bolha furou... Depelou. Carne viva, puta que pariu!
O impressionante é que quando estamos com uma flor na pele, todos os objetos do mundo vêm em direção a ela: a gota mais forte do chuveiro, o grão do sabonete esfoliante, o abraço de sua amiga gostosa e a sacola pesada do supermercado que escorrega do vão do cotovelo e pára bem em cima dela. No primeiro momento, o meu He-Man interior tentou vencer a dor. Entrou pra debaixo do chuveiro e deixou a água de véu de noiva cair sobre sua carne aos gritos, pensando que de grito ele não morreria. O He-Man interior, com os braços dormentes, descobriu que a dor em excesso é a melhor anestesia, mas que logo ela vai por ralo abaixo. Sentei em flor de lótus em cima da privada. Fiquei apenas olhando para aquela ferida ainda molhada. Gozado, eu nunca havia observado uma ferida, sem cueca depois do banho... Deixei a toalha cair, não estavam mais ali nem o He-Man e nem o artista. Era uma flor de lótus incolor a percurssar um rio de cor.
E você nem estava aqui pra soprar.